As dores de Pã

Tenho tido um estio de dias muito ativos, quase atléticos. Já não me conhecia deste jeito, quase enjeitado de uma idade que se quer ainda plena de vigor físico.

Sinto-me habitação vandalizada, a ranger por reparos urgentes. Portas e janelas com tintas estaladas e secas de sóis impiedosos. E dores, muitas dores.

Nem a propósito, encontro este poema da sábia Sophia, ao folhear um seu livro numa das minhas incursões regulares pelas livrarias dos meus roteiros de tempos mais livres.



Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar como um pano branco que se rasga.


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Coral (1950)

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