Atlantismo

«Todo o Império que não é baseado no Império Espiritual é uma Morte de pé, um Cadáver mandando.

Só pode realizar utilmente o Império Espiritual a nação que for pequena, e em quem, portanto, nenhuma tentativa de absorção territorial pode nascer, com o crescimento do ideal nacional, vindo por fim a desvirtuar e desviar do seu destino espiritual o original imperialismo psíquico. Foi o que aconteceu com a Alemanha. O povo era grande de mais para poder realizar o seu destino supremo de imperialista de Espírito. O contrário nos aconteceu, a nós portugueses, quando as descobertas nos levaram a tentar realizar um imperialismo de Matéria, que não tínhamos gente para impor.

Criando uma civilização espiritual própria, subjugaremos todos os povos; porque contra as artes e as forças do espírito não há resistência possível, sobretudo quando elas sejam bem organizadas, fortificadas por almas de generais do Espírito.

Todo o verdadeiro Império não visa outro fim senão dominar, pelo mero prazer de dominar; parecendo absurdo, tal é, porém, o anseio fundamental de toda a verdadeira vida, de toda a aspiração vital.

Criemos um Imperialismo andrógino, reunidor das qualidades masculinas e femininas: imperialismo que seja cheio de todas as subtilezas do domínio feminino e de todas as forças e estruturações do domínio masculino. Realizemos Apolo espiritualmente.

Não uma fusão do cristianismo e do paganismo, como querem Teixeira de Pascoaes e Guerra Junqueiro; mas um alheamento do cristianismo, uma simples e directa transcendentalização do paganismo, uma reconstrução transcendental do espírito pagão.»


Fernando Pessoa, in Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional

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