Mátria

O Mar é a minha mátria. Sentir as ondas em fina renda espraiarem-se a meus pés. Todo eu nu, em sentimentos. A temperatura atlântica acorda-me de encontro à vastidão, toda minha. Vagas em cadência, colcheias de marulhos para os atentos. Sereias e melusinas em surdina. Tritões e varões alertas no desengano da nona vaga, mística. Entro. Mar adentro. E a metamorfose acontece. Um ser anfíbio latente toma conta de mim. E, logo, pertenço. E existo. Acolhido por esta força líquida anímica que me envolve de modo completo e certo como na véspera do meu nascimento. E me cobre com uma película placentosa, neste ventre caldoso de algas e peixes e vida microscópica. Nesta pertença, nesta existência, tudo se resume ao cósmico, ao primordial, ao essencial. E, logo, renasço. E empurro-me de volta à praia de todos os recomeços. Todo eu nu, em sentimentos. Sentir as ondas em fina renda espraiarem-se a meus pés. O Mar é a minha mátria.







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