A hora inusitada

Hoje, motivado por um pedido alheio ao meu estado de espírito, dei por mim a escrever este poema que se segue com a mais negra das tintas que já experimentei.

Se calhar não é bom perturbar uma alma que se encontra em reboliço. Como a minha está, de momento. Podem libertar-se coisas que mais valia estarem sem voz.

Bem, mas catarse feita ou imperfeita, está o que está. E aqui o partilho.

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Arrancadas as unhas à desdita
soçobram queixumes vãos
e choram-se soluços secos.
Os parcos carpidos de contidos prantos
são parcimónia de vetusta e
mui sacra cerimónia
que ora começa.


A faca, de lâmina vil,
cortava oblíquos lanhos para mode
das iniquidades,
maculando-a de um sangue
preto e podre.
O fausto do festim era alto e obsceno,
os cacarejos em catadupa.


O negrume das palavras desenterradas,
intruso fel enjeitado,
contaminava o cortejo de protestos,
brados moucos.
Era a hora inusitada,
a hora do anjo
que caía em desgraça.

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